sábado, 28 de novembro de 2009

Eu espero que você leia isso um dia. Ou então que um dos seus leia e te conte. Mas que conte com riqueza de detalhes, por favor.
Você não é meu pai. Você não sabe o que é isso. Seus braços nunca me protegeram e seu rosto nunca sorriu harmoniosamente. Eu não trouxe felicidade à você e você me pagou na mesma moeda. Você nunca se orgulhou quando teve motivos. E então eu eu lhe digo: você não é pai.
Todas as noites ficaram gravadas aqui. E não. Você ir embora não levou nas malas toda sua desgraça de vida. A mesma desgraça me deixou. E eu carrego daqui, tentando deixá-la pelo caminho, mas sofrendo de maneira que você não sabe. E você não sabe porque nem lhe passa pela cabeça onde estou agora, como e se tenho me alimentado direito.
Não espero que se arrependa ou sinta falta. Eu não sinto a sua e aprendi com você a oferecer todo o desprezo. Eu sinto falta apenas dos dias em que deixei de brincar por medo de você. Das viagens que deixei de fazer. Das histórias que deixei de viver. E o que de mais grave você me roubou: paz pra seguir em frente. Amor. Proteção.
E então eu deixo a você minha ausência. E eu vou seguir. Tortuosamente. Caindo e levantando. Mas vou. Você é um vazio em mim.

Só.

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